Mapeamento das Comunidades de Terreiro de Matriz Africana em Sepetiba
1. Introdução
As casas tradicionais representam espaços de resistência cultural, histórica e religiosa, sendo fundamentais para a manutenção de saberes ancestrais e organizações sociais. Em Sepetiba, essas casas desempenham um papel vital na dinâmica comunitária, atuando como locais de articulação social, espiritualidade e acolhimento.
O mapeamento desses espaços visa não apenas documentá-los, mas também oferecer uma visão detalhada sobre suas funções e contribuições para a região.
2. Importância do Mapeamento
O mapeamento de casas tradicionais tem impactos diretos na preservação cultural e na formulação de políticas públicas. O reconhecimento formal desses espaços contribui para:
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Patrimônio Cultural: Registro das tradições e histórias das comunidades locais.
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Políticas Públicas: Subsídios para programas de apoio às práticas culturais e sustentabilidade.
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Fortalecimento Comunitário: Ampliação da autonomia e dos laços sociais das comunidades.
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Desenvolvimento Sustentável: Integração entre proteção ambiental e respeito às tradições locais.
Em Sepetiba, onde os desafios socioeconômicos são significativos, o mapeamento torna-se uma ferramenta essencial para visibilizar e reconhecer as contribuições culturais desses territórios.
3. Objetivo do Mapeamento
O projeto Mapeamento das Comunidades de Terreiro de Matriz Africana tem como objetivos:
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Inventariar os espaços sagrados de matriz africana.
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Sistematizar informações sobre localização, documentação, condições do território e aspectos socioculturais e demográficos.
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Mapear a distribuição sócio-espacial das comunidades com base em fundadores, lideranças, diversidade de nações religiosas e situação fundiária.
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Visibilizar a presença das comunidades de terreiro em Sepetiba e subsidiar políticas públicas voltadas ao segmento.
4. Por que mapear Sepetiba?
Sepetiba é uma região de importância estratégica para as casas de matriz africana. Segundo o IBGE (2022), possui um dos maiores índices de comunidades tradicionais no município do Rio de Janeiro.
Esse mapeamento busca conectar a preservação cultural à promoção de direitos sociais, sendo fundamental para combater desigualdades e garantir condições dignas de permanência territorial. Sepetiba se apresenta como território prioritário para a realização desse trabalho pioneiro e transformador.
5. Metodologia da Pesquisa
Etapas da Metodologia:
Pesquisa Preliminar e Revisão Bibliográfica
Levantamento de estudos e identificação de lacunas de conhecimento.
Desenho Metodológico
Definição de abordagem participativa com lideranças locais e instituições parceiras.
Construção do Questionário
Desenvolvido em parceria com a RedeMar. O instrumento abrange aspectos como identificação do espaço, localização, funcionamento, perfil dos membros, ações sociais e dados sociodemográficos.
Pré-Teste do Questionário
Realizado com mais de 100 lideranças religiosas. O questionário foi ajustado com base nos feedbacks recebidos.
Digitalização e Base de Dados
O questionário foi digitalizado e aplicado via smartphone, com dados georreferenciados e atualizados em tempo real.
Reuniões de Engajamento
Encontros com lideranças para apresentar o projeto e garantir adesão.
Seleção e Treinamento da Equipe
Pesquisadores com experiência local passaram por treinamento online e presencial.
Planejamento Logístico
Sepetiba foi dividida em sete territórios para garantir a cobertura total da área.
Implementação do Campo
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Durante o período eleitoral (agosto a outubro de 2024), a coleta ocorreu de forma híbrida, com questionário online enviado aos representantes das casas.
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Após esse período, a coleta foi realizada presencialmente, com uso de aplicativo digital.
Monitoramento da Base de Dados
Controle diário dos dados submetidos. Comunicação constante entre os pesquisadores por meio de grupo de mensagens.
Limpeza e Tratamento dos Dados
Verificação de consistência, remoção de inconsistências e consolidação das informações para análise.
6. Avanços do Mapeamento
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O volume de entrevistas realizadas supera qualquer levantamento anterior sobre o tema no município do Rio de Janeiro.
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A familiaridade dos pesquisadores com a vivência religiosa facilitou o acesso e aceitação nas casas tradicionais.
Desafios
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Dificuldade para identificar espaços tradicionais sem indicações diretas.
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Compromissos religiosos dos próprios pesquisadores afetaram o ritmo da coleta em alguns períodos.
7. Análise dos Dados
Para facilitar a visualização e análise dos dados, foi desenvolvido um painel interativo na plataforma Looker Studio. O painel é atualizado a cada 24 horas e apresenta infográficos com os principais indicadores do mapeamento.
A plataforma é gratuita e pode ser compartilhada com todas as pessoas envolvidas na coordenação do projeto.
Acesso ao painel: Clique aqui para acessar
8. Principais Resultados
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926 casas mapeadas
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816 entrevistas realizadas, representando uma amostra de 96%
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99,26% das casas declararam pertencer à matriz africana
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34,81% das casas praticam mais de uma religião
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As religiões mais praticadas são: Umbanda (59%) e Candomblé (49%)
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47,92% das casas têm menos de 4 anos de fundação
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89,22% não possuem CNPJ; 78% não pagam IPTU
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58% dos espaços são próprios e registrados em nome da liderança; 18% são alugados
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47% dos respondentes afirmaram que a principal fonte de renda da casa é proveniente do trabalho da liderança